Com o rápido avanço da tecnologia, os seres humanos perdem, pouco a pouco, uma parte de sua liberdade, sem sequer se preocuparem com isso, lamenta o filósofo francês Jean-Michel Besnier.
Para esse professor de Filosofia da Sorbonne, que se define como um humanista, as pessoas deveriam se questionar sobre o tema para tentar pôr limites.
AFP: Recentemente, uma máquina derrotou o campeão mundial de Go, existem cada vez mais carros autônomos... Estamos vivendo em um momento de mudança tecnológica?
JMB: Estamos entrando em uma nova era de aceleração do progresso técnico e científico. A informática, matriz de todas essas mudanças, aplica-se a todos os âmbitos.
Um avanço maior foi a descoberta, na década de 1960, da estrutura do DNA, que contém o patrimônio genético. Desde então, percebe-se o ser humano como um suporte de informação.
As nanotecnologias, a biotecnologia, a informática e as ciências cognitivas estão convergindo para tornar realidade objetos cada vez menores, sempre mais eficientes e inteligentes.
AFP: As máquinas e os robôs são cada vez mais capazes de assumir tarefas humanas. Quais são as consequências disso?
JBM: Estamos cada vez mais cercados de máquinas que são pensadas para facilitar nossa vida. O carro autônomo, por exemplo, é pensando para melhorar a circulação, a segurança e para nos poupar tempo.
Mas as pessoas podem se sentir cada vez mais privadas de iniciativa. Já não estamos encarregados de grande coisa e, no fim, já não somos responsáveis. Nós nos tornamos cada vez menos livres - portanto, menos morais - e nos comportamos cada vez mais como máquinas. Isso abre as portas para uma desumanização.
Ser livre é aceitar a sorte, tomar riscos.
AFP: O ser humano pode perder o controle do que criou?
JMB: Sim. Não digo que vamos criar um Frankenstein, mas acho que estamos em um mundo, no qual os engenheiros não sabem exatamente o que fazem. Fabricam criaturas que surpreendem a eles mesmos.
AFP: Quais são as reações?
JMB: Uma parte da humanidade considera que é melhor despojar os humanos, já que são os responsáveis pelas desordens ecológicas e por monstruosidades como o Holocausto. Para eles, a tecnologia é sinônimo de esperança, já que a consideram como mais confiável e controlável.
Os transhumanistas, que esperam um dia eliminar o sofrimento e até a morte, fazem parte dessa categoria.
Mas há uma segunda categoria, à qual pertenço, que considera que somos seres mortais e que decidimos nosso destino.
A nós, os humanistas, preocupa-nos muito o desenvolvimento desse mundo desumanizante, que não concede qualquer importância à dignidade humana, ou à liberdade.
AFP: As tecnologias que prolongam a vida serão acessíveis para todos?
JMB: Claro que não. Haverá uma humanidade de duas categorias.
Uma humanidade de ricos, que terão acesso às tecnologias da transformação, prolongação e imortalização.
E os demais, os quais o pesquisador britânico Kevin Warwick - o primeiro ciborgue, porque implantou um chip no braço - classificou de "chimpanzés do futuro".
Seremos os chimpanzés do futuro, uma infra-humanidade que não tomou o caminho do homem aumentado.
AFP: O que você pensa da forte presença de gigantes americanos de Internet nas tecnologias de futuro?
JMB: Têm um poder considerável. Nós nos transformamos cada vez mais em suportes de informação. Toda essa informação coletada e reunida em bases são fatores de prosperidade e de produtividade.
Nos transformamos em mercadorias. O que mais me preocupa é que somos conscientes disso, mas não nos preocupa muito.
AFP: O que podemos fazer?
JMB: Devemos recuperar nossa autoestima, a estima dos humanos para, assim, poder decidir o que é desejável ou não fazer, o que aprovamos e o que proibimos.
Sonho com que as pessoas sejam suficientemente inteligentes para se dar conta do que está acontecendo para, assim, impor regras
Fonte: Zh Clicrbs
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